A brecha da Arrábida, rocha ornamental exclusiva da região de Setúbal, recebeu a classificação de Pedra Património Mundial, a qual conta agora com um total 32 casos em termos internacionais e apenas três a nível nacional.
A brecha da Arrábida, rocha ornamental exclusiva da região de Setúbal, recebeu a classificação de Pedra Património Mundial, a qual conta agora com um total 32 casos em termos internacionais e apenas três a nível nacional.
A distinção foi atribuída pela Subcomissão do Património Geológico da IUGS – International Union of Geological Sciences, entidade parceira da UNESCO na área da geociência, que reconheceu a importância histórica e a relevância arquitetónica das aplicações da brecha da Arrábida, aliadas aos valores geológicos, culturais e pedagógicos.
A classificação de Pedra Património Mundial (Heritage Stone) da rocha ornamental da Serra da Arrábida, onde se formou há cerca de 150 milhões de anos, enquadra-se na definição da IUGS sobre “uma rocha que tem sido utilizada em arquitetura e monumentos significativos, reconhecida como parte integrante da cultura humana”.
Neste contexto, a brecha da Arrábida destaca-se por ter sido explorada como rocha estrutural desde a Época Romana até ao século XV, altura em que passou a ser utilizada como rocha ornamental associada ao estilo Manuelino no exterior de monumentos e, a partir do século XVII, no Barroco, sobretudo em aplicações interiores.
Em Setúbal, a aplicação desta rocha ornamental está presente em vários edifícios de elevado valor patrimonial, de que é exemplo maior o Convento de Jesus, no qual está instalado o Museu de Setúbal, mas também a Fortaleza de São Filipe, ambos classificados como Monumento Nacional, e a Casa do Corpo Santo.
Do ponto de vista geológico, é uma brecha conglomerática intraformacional do Jurássico Superior, de suporte granular, com clastos carbonatados de diversas cores, aglutinados por um cimento argiloso vermelho-carbonatado, cuja génese está associada a um carso formado durante um evento de emersão generalizada na Bacia Lusitaniana.
A investigação à rocha ornamental exclusiva da Serra da Arrábida foi conduzida por um grupo de cientistas liderado pelo presidente da Sociedade Geológica de Portugal e investigador da GeoBioTec da Nova School of Science and Technology, José Carlos Kullberg, juntamente com António Prego, Luís Lopes, Tiago Alves e Ruben Martins.
A investigação, publicada num artigo científico de José Carlos Kullberg e António Prego na revista Geoheritage, na qual abordam a importância histórica e arquitetónica daquela rocha e definem uma proposta de plano de salvaguarda, impulsionou a candidatura da Brecha da Arrábida a “Pedra Património Mundial”.
Uma das ideias apresentadas pelos investigadores para a preservação é a colocação em local protegido dos últimos blocos de pedra extraídos na pedreira do Jaspe, antes da interdição das pedreiras no Parque Natural da Arrábida, para que possam ser usados no restauro de monumentos.
A brecha da Arrábida é considerada atualmente um georrecurso extinto, dado que as últimas pedreiras encerraram na década de 70 do século XX, impossibilitadas de funcionar devido à classificação de zonas protegidas decorrentes da criação do Parque Natural da Arrábida.
O processo foi iniciado em 2019, numa investigação que contou com o envolvimento da Câmara Municipal de Setúbal no apoio à realização de um conjunto de visitas ao terreno e na disponibilização documental, o qual culminou em 2022 e cujo resultado foi agora divulgado.
A brecha da Arrábida junta-se às duas pedras que anteriormente tinham alcançado este estatuto em Portugal, concretamente o mármore de Estremoz e o calcário Lioz, passando a integrar o restrito leque de 32 rochas classificadas a nível mundial pela International Union of Geological Sciences.